miércoles, 9 de noviembre de 2011

CAMPEONA MUNDIAL RELATA

Em artigo do USA Today a campeã mundial sênior 2010 e bronze 2011 peso meio-pesado Kayla Harrison relata que sofria abusos sexuais em sua adolescência
Na academia Pedro’s Judo Center, em Massachusetts/EUA, que a campeã mundial Kayla Harrison se livrou de um dos maiores crimes da humanidade: o sexual.
Foi neste lugar, de propriedade de Jim Pedro, pai do por duas vezes medalha de bronze em olimpíadas Jimmy Pedro, que Kayla Harrison pode se dizer curada.
Chegou lá, aos 16 anos, emocionalmente estraçalhada depois de ter sido abusada sexualmente por seu antigo treinador. Ela começou a treinar com os Pedro’s, em 2007. Agora ela é uma campeã do mundo, com o objetivo de se tornar a primeira judoca norte-americana a conquistar uma medalha de ouro olímpica nos Jogos do ano que vem em Londres. “Não consigo expressar com palavras o quanto sou grato a eles”, diz Harrison, 21 anos, relembrando o seu passado, pela primeira vez publicamente para USA Today. “Eu os considero como uma família.”
Os Pedro’s fizeram muito mais do que melhorar a sua força, técnica e tática. Eles a treinaram nos momentos mais difíceis, incluindo o dia em que testemunhou contra seu agressor perante o juiz. “Eu liguei para Jimmy”, diz ela. “Eu só me lembro dele falando comigo como se fosse uma luta.”
Seu ex-treinador, Daniel Doyle, está cumprindo uma pena de 10 anos em uma prisão federal, após se declarar culpado em novembro de 2007 sob acusação de “fazer sexo em um lugar impróprio.”
De acordo com a declaração dos fatos e do acordo de confissão, as relações sexuais começaram “em maio de 2004,” quando Harrison tinha 13 anos, e continuou por três anos, inclusive em três países estrangeiros onde Doyle e Harrison viajaram para as competições.
O USA Judo (órgão federativo de judô norte-americano) baniu Doyle do judô para sempre. O caso, em si, não estimula alterações específicas na política do USA Judo, que tem um comitê de ética para examinar reclamações e denúncias contra treinadores e árbitros, diz Jose Rodriguez, diretor executivo da organização.
Perguntado se ele acredita que o judô é um esporte ideal para as crianças e que elas estão livres de tais abusos, Rodriguez diz: “Absolutamente.”
Harrison diz que hesitou em contar a sua história porque “não queria que as pessoas pensassem que o judô é um esporte cheio de maldades. O judô não é.”
Nove meses antes das Olimpíadas de Londres – onde pode ser a sua consagração e fazer história – conta, pois acredita que desta forma possa ajudar as pessoas que estejam passando por experiências parecidas. “Espero que um dia, em algum lugar, eu possa fazer a diferença. Eu posso falar como uma menina que se libertou”, diz Harrison.
Deixando o passado para trás
No mês passado, Don Peters, treinou em 1984 a equipe de ginástica olímpica feminina dos EUA, deixou o seu clube na Califórnia em meio a denúncias de abuso sexual. No ano passado, o Comitê Olímpico dos EUA (U.S. Olympic Committee) e algumas das organizações norte-americanas de desportos olímpicos receberam várias acusações de abuso sexual por treinadores de natação. “É um trabalho em progresso contínuo”, diz Rodriguez.
Fragmentos da história pessoal de Harrison e como a equipe olímpica dos EUA prepara-se para Londres.
Natural de Middletown, Ohio, Harrison começou aos 6 anos no judô. Sua mãe, Jeannie Yazell, tinha tido aulas na faculdade e matriculou sua filha mais velha no esporte quando ela mostrou interesse pelas artes marciais. Por 8 anos, Kayla foi totalmente viciada no judô, atraída pela excitação de viajar e participar de competições.
Naquele ano, ela começou a treinar com Doyle – 16 anos mais velho que ela – na Renshuden Judo Academy, em Centerville, Ohio.
Doyle se tornou um amigo íntimo da família.
“Ele cuidava de todos os nossos três filhos”, diz Yazell, que é casada com o padrasto de Harrison, tem, no segundo casamento, uma filha de 17 e um filho de 13 anos. “Eles passavam a noite em sua casa. Ele já passou férias conosco, porque nossas férias era em torno do judô.”
Harrison começou a ser notícia no mundo do judô.
Quando ela tinha 12 anos, um treinador do USA Judo convidou-a para a seletiva do projeto olímpico 2004. “Para o mundo exterior, eu era a menina de ouro”, diz ela. Internamente, estava em tumulto.
Anos de angústia. “Eu era hipersensível por causa desta situação”. “Eu tinha pensamentos suicidas. Eu escrevia no meu diário sobre o que seria se eu tivesse ido embora e se alguém sentiria falta de mim. Felizmente, eu nunca fiz.”
Harrison diz que não contou a ninguém o que estava acontecendo entre ela e Doyle, até que, aos 16 anos, ela descobriu que tinha se tomado uma mulher. “Eu queria que tudo aquilo acabasse”. “Mas ao mesmo tempo pensava que o amava, que estaria traindo-o. Mas querendo um fim… Então, quando isso aconteceu, eu vi uma saída.”
Kayla revelou detalhes a uma amiga, que, por sua vez, contou a Yazell. “Eu estava devastada e horrorizados”, diz a mãe de Kayla, Yazell. “Eu não consigo imaginar que eu não percebesse. Há dias que eu penso: ‘Como que eu não desconfiei?”
Com Doyle, em liberdade sob fiança por vários meses antes do acordo de confissão e condenação, e com o boato espalhado no pequeno mundo do judô de Ohio, Yazell disse que era melhor se mudar se Harrison quisesse continuar no judô.“Nós queríamos que ela parasse, mas sentimos que se ela saísse, não saberia como sobreviver”, diz Yazell. “Era algo que ela tinha feito durante tanto tempo.”
Jimmy Pedro e Kayla Harrison conheceram-se quando ele treinou a equipe júnior em uma competição nacional. A família Pedro treinou, em 2008, a medalhista de bronze olímpica Ronda Rousey, “tinham uma reputação exemplar”, diz Harrison.
Harrison mudou-se para um apartamento com vários outros atletas que estavam treinando com os Pedro’s, entre eles Rousey e Rick Hawn (atleta olímpico 2004). Eles sabiam sobre sua situação, mas não comentavam.
Durante um ano e meio, Kayla pensou em desistir, mas Jim e Jimmy Pedro faziam mudar de ideia. “Meu pai, Jim, assumiu a condição de pai de Kayla, e eu assumi o papel de treinador”, relata Jimmy Pedro. “Assim construímos uma espécie de porto seguro para ela.”
Eles encaminharam-na para terapia, fizeram que terminasse o ensino médio, e ainda ajudaram para formação do curso de bombeiro (está nos últimos estágios para obter o certificado).
“Eu gritava com ela, dizia coisas para ela que eu não diria para outras crianças”, comenta Jim Pedro. “Eu a faço chorar, mas ela sabe que eu estou fazendo isso porque eu quero que ela ganhe”.
O treinador lhe deu o seguinte conselho: “Ele disse: ‘você vai ter que superar isso. Aconteceu com você, mas não é o fim”, relembra Harrison.
Com o foco em Londres 2012
Competições, que antes eram tranquilas para Harrison quando ela começou, foram estressante após sua mudança. Mesmo Harrison, sendo menor de idade, não podendo ser o seu nome vinculado a notícias sobre o caso Doyle, circulava na internet nas comunidades de judô especulações sobre o fato.
“Quando a atenção é para este tipo de coisa, você não se sente bem”, conta Harrison. “Então, ficava muito ansiosa. Tive ansiedade antes das competições.”
Em 2008, os Pedro’s acharam melhor que mudasse de categoria. Subiu do meio-médio (-63kg) para o meio-pesado (-78kg). Pois não haveria mais a necessidade de se preocupar com o dietas. No peso novo, Kayla venceu o prestigioso US Open, o mundial júnior e a seletiva para equipe olímpica.
Como os EUA não tinha classificado o peso até 78 kg para os Jogos de 2008, Harrison viajou para China como companheira de treinamento para Rousey (-70kg).
“Eu acho que ter a experiência de ver os outros atletas do nosso programa olímpico participarem, ver a Ronda Rousey ganhar uma medalha de bronze, observar como ela treinou aqui, ajudou a definir o que Kayla precisava fazer”, diz Pedro.
No ano passado, Harrison foi impecável. Ela ganhou cinco medalhas de ouro em Copas do Mundo e os campeonatos mundiais. Ela conquistou título mundial pela primeira vez para os EUA desde que Pedro ganhou em 1999.
Ela entrou este ano determinada a ser a primeira atleta do US Judo a conquistar o bicampeonato mundial sênior (dois anos seguidos). Mas foi bronze.
“Eu deixei o stress de lado”, relata Harrison. “… Agora eu sei o que eu quero e não vou ter esse tipo de pressão para as Olimpíadas.”
Ela vai ter uma história interessante para contar e uma mensagem de ressonante para mostrar, especialmente, se ela subir no topo do pódio, em Londres. “Seria uma vitória da vida”, comenta sua mãe.
Traduzido do USA Today, Gary Mihoces